MATAR OU MORRER


Está em curso, no Brasil e mundo afora, nas altas cúpulas governamentais e empresariais, uma verdadeira dramatização da obra “A escolha de Sofia”, romance escrito por William Styron, em 1979, em que uma mãe é obrigada a escolher entre os filhos aquele que irá sobreviver.
A pandemia do novo coronavírus fugiu totalmente do controle e as piores previsões realizadas estão muito aquém do caos já instalado e dos efeitos desastrosos na economia global. Fato é que o mundo não irá suportar ficar parado por muito tempo, sob o risco, ou melhor a certeza, de uma hecatombe social e econômica que será irreversível por décadas.
Neste exato momento, milhares de físicos, cientistas políticos, estatísticos, matemáticos, economistas, médicos, infectologistas, epidemiologistas, governantes, empresários, militares e quaisquer outros profissionais da mais alta excelência em suas atividades, fazem cálculos, criam cenários e tentam desesperadamente encontrar uma solução menos danosa, menos letal ao habitantes do planeta.
No Brasil, gente que não costuma desperdiçar palavras, tempo e dinheiro, já propõe uma espécie de abrandamento das quarentenas impostas por prefeitos, governadores e União, provando, por A+B, que o custo social - e mortes advindas desse custo -- da manutenção das medidas atuais, será muito maior que o causado pelo afrouxamento dessas medidas.
Não é um cálculo fácil muito menos uma decisão simples de se tomar. Os governantes serão impiedosamente acusados por uma decisão ou por outra, e serão politicamente responsáveis ou por cadáveres ou por desemprego e miséria sem precedentes. Isso vale para o Brasil e qualquer outro país no mundo.
Seja qual for a decisão tomada, essa deveria ser em conjunto com o maior número de nações o possível, simultaneamente. Da mesma forma que, no Brasil, as decisões deveriam estar sendo adotadas por todos os estados e municípios, sob o comando do governo federal.
Jair Bolsonaro não erra ao se preocupar com a economia. Erra ao se preocupar com sua popularidade por conta do desemprego. E todos os governadores e prefeitos certamente pensam da mesma forma, cada um com sua crença no que têm realizado. Seria fundamental que remassem todos na mesma direção, assumindo juntos os ônus e bônus.
Mas o presidente erra, aí, sim - e feio! - ao insistir na conspiração entre o governador João Doria, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, que em conluio com a imprensa estariam paralisando o Brasil apenas para prejudicá-lo na próxima eleição. Tal tese é de uma estupidez sem tamanho.
O egocentrismo e psicopatia de Jair Bolsonaro só conseguem ser menores que sua capacidade de alienação da realidade. Insisto: o presidente não está errado ao se preocupar com a economia. Ao contrário. Sem dinheiro, as vidas salvas no curto prazo serão ceifadas no médio e longo, por absoluta incapacidade de custear alimento, remédio e moradia.
Não gostaria de estar no lugar dele ou de qualquer outro chefe de nação. Mas torço para que ouçam suas melhores vozes e decidam, não de olho no voto, mas de acordo com o que for melhor para seus povos. E que Deus os ilumine.
[Não tenho opinião formada sobre a melhor decisão. Tendo a querer que haja uma flexibilização. Mas tenho mãe e sogros idosos. Tenho amigos queridos na mesma situação. Não consigo decidir o que é menos pior. Vai ver por isso não meto a ser governante].

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