HIPOCRISIA
Poucas características são tão asquerosas nas pessoas quanto a hipocrisia.
Já disse uma, duas, duzentas vezes: não tenho a menor ideia se o correto é manter todos confinados ou se é liberar geral ou ainda um meio termo. Simplesmente, porque não sei!
E também já admiti que seria incapaz de decidir caso fosse um governante, e que qualquer que seja a decisão dos governos não irei criticar. Ao contrário. É preciso ter muita coragem ou para assumir mortes em pencas ou desempregados aos milhões.
Agora, o que tem de FDP nesse mundo é impressionante!!
O cara diz: "tem de voltar a trabalhar, o País não pode ficar parado", mas não se atreve a botar os pezinhos para fora de casa. Ou, se põe, o faz dentro do carro e direto para o escritório, devidamente seguro e higienizado. Queria ver o valente correr para o Mac Donald's da esquina, tomar uma no bar com a turma ou se atrever a ir ao cinema.
Tem também o contrário: "todos têm de ficar em casa! Ninguém pode sair". Exceto: a empregada doméstica, o lixeiro, o porteiro, o médico, a enfermeira... estes que se lasquem, né, bonitão?
Para os que defendem o meio termo, uma pergunta: como isolar as crianças, que irão para as aulas, dos demais familiares, muitos deles em grupos de risco? Como isolar os jovens, que não possuem familiares em grupos de risco, de outros jovens que possuem?
Percebem, como não há solução fácil para algo tão complexo? Percebem, por que eu não consigo formar uma opinião e sair por aí batendo bumbo, como tantos por aqui fazem?
Outra estupidez é o tal "serviço ou produto essencial". Afinal, o que é essencial?
Comida, por exemplo? Beleza. E onde se embala comida? Então embalagem é essencial. E a matéria-prima da embalagem? E o transporte da comida, da embalagem e da matéria-prima? E as peças, combustíveis etc para o transporte? Remédios? A mesma extensa cadeia interligada. Energia? Idem. Higiene e limpeza? A mesma coisa.
Querem outro exemplo? Álcool em gel.
É preciso uma usina de álcool. Nessa usina entra cana-de-açúcar e centenas de outros insumos, cada um produzido em um lugar, a partir de outros insumos produzidos em outros lugares. Daí, o álcool segue para uma empresa que o transforma em gel (utilizando um insumo produzido em outro lugar, embalado e transportado até a fábrica). Depois precisa envazar (num frasco produzido em outro lugar etc...), rosquear o bico aplicador (adivinhe? Produzido em outro ligar), aplicar um rótulo (você já sabe: produzido em outro lugar), acondicionar em uma caixa de papelão (preciso explicar?) e transportar até o ponto de venda.
Repito: percebem como não há solução fácil? Não há um setor, serviço ou produto essencial, pois tudo depende de uma extensa cadeia produtiva e de logística até encontrar uma prateleira.
Mas o prefeito, o governador, o presidente ou sei lá quem decretam: "só funcionarão serviços essenciais". Essencial é tudo, caramba! Ou o prefeito, governador e presidente determinam: "abram tudo". Ou "fechem tudo". É uma zona! E não há como ser diferente. Já disse: não há manual de instrução para essa crise. Todos estão voando no escuro e sem radar.
Por isso me irrito tanto com os hipócritas e valentes de plantão. Uma gente mesquinha que imagina lacrar quando apenas passa vergonha, se é que possuem alguma. E ainda decretam sobre mim: isentão!
Deixem de ser babacas! Deixem de ser os donos da verdade. Vocês são uns ignorantes que se informam pelo WhatsApp e imaginam que são doutores. Tenham um pingo de caráter e humildade e reconheçam-se como o que são: um bando de Zé Ninguéns! Como eu, aliás!! A diferença é que assumo que sou.
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